VOLTA PRA CASA: Por Entre Roseiras, Memórias e Fé: Um Caminho de Retorno à Alma

Voltar pra casa não é apenas um movimento físico ou geográfico. É, acima de tudo, um chamado interior. Um murmúrio ancestral que ressoa no fundo da alma, um convite silencioso que nos pede para retornar ao que é essencial, àquilo que nos nutre e sustenta. “Voltar pra casa” é recordar-se de si — das partes esquecidas, dos sonhos adormecidos, da sabedoria guardada nas raízes do ser.

Na psicologia profunda, especialmente no trabalho de Clarissa Pinkola Estés, a casa representa o lar da alma — o lugar onde habitam nossos instintos, nossa memória intuitiva e os laços com o feminino arquetípico. Em suas obras Mulheres que Correm com os Lobos e Libertem a Mulher Selvagem-O Amor da Mãe Abençoada, Clarissa descreve esse retorno como o reencontro com a natureza selvagem, com a mulher instintiva, com o Eu autêntico que habita além das máscaras.

 

MARIA, Rosto da GRANDE MÃE

Essa “Grande Mãe“, tão presente no imaginário coletivo, se manifesta em todas as culturas sob diversas faces. Clarissa estuda a figura de Maria como a presença viva da Mãe Universal, que aparece tanto nos santuários cristãos quanto nas tradições africanas, indígenas, andinas e celtas. Em Guadalupe, Aparecida, Czestochowa, Medjugorje ou Lourdes, Maria não é apenas uma santa — ela é a memória da origem, a mãe de todos, o ventre que acolhe e a ponte entre mundos.

Em cada uma dessas manifestações, o arquétipo da Mãe se adapta ao coração do povo que a invoca. E é por isso que Maria é negra em algumas terras, mestiça em outras, branca em outras ainda — pois como diz Clarissa, “Maria veste a pele de quem a ama.” Ela não é prisioneira de uma religião: ela é a linguagem simbólica da misericórdia, da compaixão e da escuta profunda. E onde há sofrimento, ali ela floresce como uma rosa na pedra.

 

A ROSA Que Conduz o Caminho

As muitas roseiras, encontradas no caminho de Santiago de Compostela, e constantemente evocadas por Clarissa, são símbolos da beleza que floresce do profundo. Elas crescem entre espinhos, mas oferecem perfume e cor. A rosa é também símbolo de Maria — “rosa mística” — e por onde ela passa, deixa o rastro de um amor que redime e reorienta. Em muitas culturas, orações são feitas com terços de rosas, e nas procissões, pétalas são lançadas ao chão como oferenda à Mãe.

Seguir o caminho das rosas é seguir o fio do coração. Porque, como diz a autora, “o coração é o altar da alma.” E todo caminho de volta passa por esse altar interior, onde a fé não é imposta, mas acesa com ternura. Voltar pra casa é também voltar ao coração, aprender a escutar sua linguagem silenciosa, confiar em seus sussurros e reverenciar sua sacralidade.

 

O CORPO Como TEMPLO VIVO

Em sua obra, Clarissa também nos convida a honrar o *corpo como morada da alma*. Ela afirma que nosso corpo é o templo vivo da presença divina — a casa onde habita a intuição, a sabedoria ancestral, os ciclos da vida. Muitas vezes, nos afastamos do corpo pela dor, pela cultura que o silencia, ou pelo excesso de exigência. Mas o retorno à casa é também o retorno ao corpo sagrado — à respiração, ao ritmo, ao ventre, ao pulsar do sangue.

Na tradição da Mulher Selvagem, o corpo é veículo da alma, mas também é terra fértil, instrumento de sabedoria. Voltar para ele com amor, escuta e respeito é parte essencial do caminho de cura. É nele que as mensagens se revelam, que as feridas falam e que a luz se ancora. E é no corpo que muitas mulheres sentem o chamado de Maria — não como figura distante, mas como uma presença viva, quente, acolhedora.

 

 

O Caminho é Circular

As tradições milenares falam do caminho de volta como um movimento circular — não é um ponto final, mas uma dança contínua entre ida e retorno. No xamanismo, na mística cristã, nas tradições budistas e sufis, a peregrinação interior leva ao centro: ao coração, à essência, à Fonte. Voltar pra casa é estar disposta a escutar o que se move por dentro e reconhecer os sinais do sagrado em cada instante.

Clarissa nos lembra que essa jornada não é solitária: somos acompanhadas pelas que vieram antes — avós, anciãs, parteiras da alma, santas e mulheres do povo. Elas nos guiam pelas histórias, pelos sonhos, pelas orações murmuradas. Maria está entre elas. Como mãe, irmã, mestra e curadora, ela caminha conosco, dentro e fora, abrindo caminhos por entre espinhos e véus.

 

Voltar e Ouvir a Voz da Mãe Dentro do Coração

Voltar pra casa é lembrar. É recordar o que foi esquecido, restaurar a confiança, renovar a fé. É acender uma vela no peito e seguir a chama. É saber que mesmo nos dias escuros, há uma rosa brotando no invisível. Como diz Clarissa: “A alma sabe o caminho, mesmo quando a mente se perde.
E como Nina Zobarzo bem escreveu, permitir-se receber um cuidado ancestral:
“Vem, filha…Senta aqui…Pare de se doar um pouquinho. Hoje é você quem vai receber. Vem, filha, senta aqui…Hoje formamos um círculo ao seu redor. Hoje você está sob nossos cuidados, nossos rezos, nossa energia. Hoje, neste círculo, quem recebe a cura é você. Venha filha, senta aqui…Somos suas avós, bisavós, trisavôs, tetravós, tataravós, hexavós…E as que vieram antes delas…Somos tantas, somos muitas, somos o feminino. Raizes da árvore que hoje você representa em flor… E celebramos seus escritos e sua voz, que fala por nós. Sua atitude, que nos liberta… Seu sentimento que é nossa alma… Suas palavras, que são nossa Sabedoria… Sua coragem, que é nossa continuidade… Hoje, deixe-se abraçar… Vem, filha, Senta aqui… Somos as anciãs. Feche os olhos… Receba.”

 

O Lar Sempre Esteve Dentro — Esperando por Nosso Retorno

Neste tempo de ruído, retornar à casa interior é um ato de coragem espiritual. Que possamos sentar junto às roseiras da alma, ouvir a voz de nossas ancestrais e da Mãe Divina dentro do coração, e honrar o corpo como templo vivo do sagrado. Porque, no fim das contas, voltar pra casa é lembrar que nunca estivemos sozinhas. O lar sempre esteve dentro — esperando por nosso retorno.

Há encontros que não obedecem ao tempo. Acontecem de forma simples, mas marcam de forma profunda. São olhares que se reconhecem, palavras que abraçam, silêncios que confortam. Esses encontros não passam — ficam. Mesmo que a vida siga, eles permanecem em nós, gravados como memória viva, eternizados no coração.

Ao retornar, trago não apenas lembranças, mas muitos nomes gravados na alma: Mulher Medicina. Guardiã da União Sagrada. Filha da Grande Mãe, das Estrelas e da Terra. Sacerdotisa da Lua e do Amor. Iniciada da SOA. Peregrina do Sol.

 

“Se você seguir o caminho até o fim, retornará para casa, para este lugar, aqui é agora, completamente você mesmo.”
Kodo Sawaki

 

 

Regina Almeida

É mãe, avó, escritora e psicóloga (CRP 01/22754) com uma caminhada única que combina psicologia iniciática e sabedoria atemporal. Há mais de 30 anos, ela se dedica à transformação pessoal e coletiva, inspirada em práticas como a psicologia analítica de Gustav Jung, Fenomenologia Existencial e Gestalt Terapia. Oferece Atendimentos Personalizados Presencial e On-line – WhatsApp 61 981721901

Iniciada na Suprema Ordem de Aquarius (SOA), Regina leva adiante ensinamentos profundos sobre prosperidade, abundância e despertar espiritual. Desde 1991, lidera grupos focados no desenvolvimento de mulheres, na realização do potencial humano e na construção de uma vida mais consciente e plena. Facilitadora de Formação de Terapeutas Integrativos para atuação profissional e multiplicadores sociais.

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